Um dos gângsteres mais inescrupulosos
que já se existiu, um dos mais lembrados, um dos mais comentados, um dos
melhores no que fazia.
Por Anderson Maciel
Filmes de gângsteres sempre foram
lembrados de bom grado a frente de seu público ao mostrarem a cruel realidade
das ruas e apresentarem, de maneira habilidosa e impactante, personagens
marcantes que virariam lendas na história do cinema. Por exemplo, Don
Vito Corleone, representado por Marlon Brando em O poderoso chefão (1972).
Mas, muito além da simples ficção, existiram diversos mafiosos que costumavam
deixar um rastro de sangue por onde passavam quando eram atrapalhados por um
desafeto. Al Capone era um deles. Em Os Intocáveis (1987), ele é
magistralmente interpretado pelo ator Robert De Niro, contando uma pequena
parte de sua vida quando está prestes a ser preso pelo menor de seus crimes. Neste vídeo, De Niro é Al Capone numa das cenas mais clássicas da vida do mafioso,
quando descobre que foi traído por um comparsa e o ataca com um taco de
beisebol.
Alphonsus Gabriel Capone, conhecido
mundialmente por Al Capone, de nacionalidade ítalo-americana, nasceu em 17 de
janeiro de 1899 no Brooklyn, em Nova Iorque. Embora se pense que a maioria
esmagadora de criminosos se formava a partir de origens educacionais
miseráveis, Al Capone fugiu a essa regra porque fazia parte de uma relativa
família tradicional isenta de um passado negro. Seu pai, um homem de boa
educação, vindo de Nápoles, na Itália, junto com sua mãe, trabalhava como
barbeiro para sustentar a família.
Eles vieram para os Estados Unidos e se
instalaram no Brooklyn pouco antes de seu filho mais famoso nascer. Os dois
acabaram por residir em um cortiço, de vizinhança perigosa e rodeada de crimes,
prejudicial para quem quisesse seguir um caminho qualificado na vida, o que era
o caso da família Capone, cumpridora fiel das leis impostas e da ordem
estabelecida. Foi na escola, porém, que Al Capone deu os primeiros passos para
a “profissão” a qual resolveu seguir, quando, aos 14 anos, agrediu uma
professora, tendo como consequência sua expulsão da escola e, após esse
episódio, nunca mais retornou aos estudos. Depois de um arranhão na sua
bochecha esquerda, tempos depois, ocasionado por um jovem bandido com uma
navalha, Al Capone ficou conhecido também como Scarface.
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(Foto: nps.gov/museum) |
O Scarface
conheceu Johnny Torrio, um gângster de enorme influência no mundo do crime.
Torrio mudou-se para Chicago em 1909, convidando Capone para viver na cidade
quando tinha apenas 22 anos, e ele não demorou muito a revelar seus talentos
para os delitos. Estes foram concentrados e relacionados com a Lei Seca,
iniciada em 1923, que proibia a compra e venda de bebidas alcoólicas, quando o
mafioso resolveu infligi-la, tornando-se, posteriormente, o crime mais lembrado
na história do mafioso até os dias de hoje, por ter sido abordado,
principalmente, no filme Os Intocáveis. Dois anos depois, Torrio se aposentou
e Al Capone tomou seu lugar nos negócios, controlando jogos de azar, bordéis,
casas noturnas, local onde era comum a prostituição, e, indo na contramão da
nova lei implantada, comercializava bebidas alcoólicas, expandindo seu
território em detrimento de gangs rivais. Para não ser pego pelas autoridades,
comandava seus trabalhos num escritório disfarçado de loja de antiguidades. Ele
estava sempre precavido contra seus inimigos que o ameaçavam: seu carro era
blindado, possuía oito guarda-costas que não o largavam e preferia fazer viagens
noturnas, arriscando-se à luz do dia somente quando era de extrema importância
para seus lucros. Tudo o que era fora da lei e contra ela, Al Capone estava
envolvido de maneira magistral.
A
repressão em Chicago o fez mudar de planos a fim de transferir seus negócios para
a cidade de Cícero. Lá, com o auxílio de seus irmãos, se infiltrou no governo e
na polícia – era mais uma característica do mafioso. Capone subornava as
autoridades: comprava juízes e jurados em favor próprio, atitudes marcadas para
sempre em seu currículo. Na cidade para a qual transferiu seus negócios,
assumiu cargos de liderança no governo, além de controlar suas atividades mais
lucrativas, como a administração de bordéis e jogos de azar. Ele sequestrava
adversários políticos e ameaçava os eleitores, e, assim, acabou sendo eleito na
cidade. Capone, apesar de não transparecer ser um homem violento, deixou
algumas vítimas, como foi o caso quando seu amigo Jack Guzik foi agredido.
Indignado, matou o agressor e, como em vários outros casos, não foi punido pelo
assassinato.
Diferente da maioria dos criminosos
da época, Al Capone gostava de ser notado. Mudou-se para o pomposo Hotel
Metrópole para se tornar mais conhecido, local onde ocorriam festas com a
imprensa, e, além disso, começou a ser visto em óperas. Sua extravagante
maneira de se vestir também chamava a atenção do seu público: se vestia
luxuosamente, utilizando de ternos bem cortados e coloridos, vestindo somente
camisas de seda. Um homem com grife na aparência, e só nela.
Mais mortes estariam por vir quando
ele, junto com seu velho amigo Frankie Yale, se envolveu no contrabando de
uísque em Chicago. Naturalmente, inimigos surgiriam, o que não foi empecilho
para o gângster, que os aniquilou no chamado Massacre Clube Adonis. O
contrabando o deixava muito bem financeiramente e socialmente, até a morte de
Billy McSwiggin por seus capangas. Capone não levou à culpa pela tão repetida
falta de provas, porém começou uma série de protestos contra a violência e o
público se voltou contra aquele homem extremamente extravagante. E, assim, com
o empurrão moral dos filantropos contra a violência, investigações minuciosas
foram feitas, mas sem sucesso. Capone entregou-se eventualmente à polícia
porque sabia que não poderiam prendê-lo devido o fato de ninguém possuir uma prova
concreta que o culpasse pelos seus crimes. O mafioso então deu um tempo em sua
rotina perigosa, pregando a paz e o amor em Chicago. Mas não demorou tanto
assim para que ele voltasse a fazer o que bem queria. Em maio de 1927, a
Suprema Corte programou uma lei em que um contrabandista não estaria isento do
pagamento de impostos. Isso foi, talvez, a primeira página da sentença de morte
de Al Capone.
O mafioso, acompanhado de sua esposa
e filhos – ele havia se casado em quatro de dezembro de 1918, tendo o primeiro
filho no mesmo ano – mudou-se para Miami onde comprou a propriedade Palm
Island, dando a oportunidade de a polícia investigar seus gastos, o que foi
complicado para ela, pois Capone sabia esconder suas despesas exorbitantes e
gastava apenas o dinheiro que ganhava legalmente. Capone, entretanto, tinha um
problema ainda maior. Sequestros no transporte de uísque o atrapalharam
consideravelmente. Frank Yale, antes grande amigo, também estava interferindo e
atrasando seus negócios no ramo da bebida. Resultado: Yale foi brutalmente
assassinado, vítima de uma metralhadora.
Al Capone também esteve ocupado com gangs rivais, que, no decorrer do
tempo, sempre se apresentaram como um perigo iminente contra o mafioso. Resultado?
Mais uma aniquilação, no que ficou conhecido como “O Massacre do Dia de São
Valentim”.
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(Foto: Veja) |
Como
todo criminoso histórico e inesquecível, Al Capone tornou a ser preso quando
finalmente provas reunidas por Andrew Mellon foram lançadas à tona na direção
do seu crime mais leve: a sonegação de impostos. Anteriormente falado, a lei
que o obrigava a pagá-los foi essencial para sua prisão, levando-o à loucura e,
posteriormente, a morte. Eliot Ness aparece em destaque no filme Os
Intocáveis como o responsável pela sua prisão, o que não condiz com a
realidade, embora, com o sucesso do filme, muitos tenham pensado dessa forma.
Assim também retratado no filme, mas agora se relacionando com a realidade, Ness
reuniu uma equipe à procura de provas contra o gângster mais desejado pelos
presídios estaduais. Tempos depois, enfureceu o calmo e transparente mafioso
expondo violações na sua indústria de contrabando, ocasionando-lhe um prejuízo
incalculável. Antes da sua prisão definitiva, porém, outra foi decretada, em
frente a um cinema, na Filadélfia, por porte ilegal de armas, mas, depois das
regalias e luxos que obteve na penitenciária, logo se safou como já era de
rotina.
A segunda prisão foi marcante. Um
júri federal acusou Capone de não pagar um grande valor em impostos. Depois de
uma longa e cansativa investigação, foi determinada a evasão fiscal que chegou
a um valor maior que 200 mil dólares. Capone e o resto de sua gang foram
acusados de inúmeros crimes de violação relacionados. Para o julgamento, mudanças
deveriam ser introduzidas para se fazer justiça. Havia a possibilidade de
Capone, com toda sua influência e brutalidade, ter subornado todo o júri, por
exemplo, que foi alterado na hora da agonia para o mafioso, que ficou surpreso
ao perceber a troca iminente. Sua defesa era cômica: dizer que não possuía
renda quando, ao mesmo tempo, vestia-se impecavelmente com suas roupas
caríssimas. Após um acordo entre advogados, o gângster aceitou se declarar
culpado por uma pena mínima, o que não ocorreu. Foi condenado a 11 anos de
prisão, em 18 de outubro de 1931. Cumpriu somente sete anos de detenção, porém
saiu da prisão com sífilis e alterado mentalmente, simplesmente irreconhecível.
Morreu devido a um derrame cerebral em 1947, em Palm Island.
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(Foto: http://man-trends.com) |
Al Capone nunca fez doações
consideráveis a instituições de caridade, nunca se preocupou notavelmente com
os outros nem muito menos deixou vivo quem não merecesse, e, apesar disso, é
lembrado como uma lenda em um sentido positivo. É fácil imaginar como o mentor
de vários crimes possa ter se tornado uma figura inesquecível.
Nas redes sociais de hoje, é
mencionado como se sua história se resumisse em atos de heroísmo e bondade. Alguns
fatores são essenciais quando se quer compreender essa questão: ele se destacou
com sua extravagante maneira habitual de se vestir, um dos fatores para ser tão
querido durante tanto tempo.
Além disso, os excelentes filmes com sua
biografia ou mesmo pedaços de sua vida foram apresentados como sensacionais
para o público sedento por sangue, o que talvez realmente tenha sido, pois boas
histórias de conflito e o charme inexplicável que a máfia apresenta animam os
“fãs” na maioria dos casos. Documentários e relacionados não faltam e
facilmente podem ser encontrados. Só pela tensão de todo vídeo quando se trata
do mafioso, percebe-se o que esse homem foi capaz enquanto vivo. Assim, quando
se fala no termo “máfia”, o primeiro nome que vem à mente é de Alphonsos
Gabriel Capone, que, por sinal, está bem longe de ser o melhor e o detentor da
marca da maior lista de vítimas, mas, por sua personalidade forte, é lembrado
como o melhor mafioso de todos os tempos.
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