Por Carolina Freitas
Imagine um mundo com poucos aparelhos e canais de televisão com programação limitada a uma parte do dia. Enquanto a televisão surgia, o cinema assumia um papel social diferente: tanto trazia ídolos, como também notícias. O cinema brasileiro, em boa parte do século vinte, não foi movimentado pelas obras de ficção, mas pelos noticiários e documentários, forte característica da produção nacional.
O termo inglês newsreels pode ser traduzido como giro ou roda de notícias e transmite um pouco da estética e do conteúdo desses filmes: curtas jornalísticos exibidos no cinema antes dos filmes, normalmente traziam notícias factuais mais relevantes da atualidade e variadas em um espaço curto de tempo, inferior a 10 minutos.
As notícias eram feitas com narrações sobre imagens do momento do acontecimento, geralmente sem o áudio do ambiente, com uma trilha sonora de cinema antigo por trás e notícias separadas por vinhetas. Os assuntos variavam: um resumo da semana, propaganda do governo, inauguração de obras, um personagem famoso ou querido pelo público, um pouco sobre moda e muito sobre futebol. Havia uma linguagem diferente dos telejornais, mais cinematográfica em relação à filmagem e ao áudio. Talvez por essa diferença estética, ou pelo tempo limitado, não houvesse apresentadores, normalmente também não haviam entrevistas.
As primeiras representações filmadas de notícia foram feitas na França, assim como o primeiro cinejornal, criado em 1908, o Pathé-Journal. Aqui, o primeiro cinejornal surge como uma versão do Pathé-Journal, em 1912. Tantos outros surgiram que até 1935, haviam sido criados 51 cinejornais no Brasil, de maior ou menor longevidade, e uma grande parte produzida pelos chamados “cavadores”, cineastas mais interessados em dinheiro, portanto haviam muitos cinejornais encomendados por políticos ou poderosos. No Brasil, os cinejornais foram produzidos até a década 1980, quando cessavam de ser feitos devido ao aumento da produção televisiva e do número de aparelhos no país.
Durante o governo de Vargas, as versões brasileiras foram muito importantes para a popularização da imagem do presidente, como cinejornal oficial da Agência Nacional e tinha exibição obrigatória nos cinemas, o acervo pode ser visto no site Zappiens. Houve outros tantos cinejornais famosos e de grande longevidade, como o Canal 100, que transmitiu a primeira Copa do Mundo colorida no país, e que chegou até mesmo a virar programa de televisão. No geral, a maioria das produções eram da região sudeste ou da capital inaugurada em 1960.
Confira: Vídeo do Canal 100 https://www.youtube.com/watch?v=xOmYao6XNXY
Os cinejornais, apesar de vários terem sido patrocinados ou institucionais, são um importantíssimo acervo de filmes históricos por guardarem e terem exibido ao público durante décadas momentos políticos, culturais e trazendo em si grandes personagens nacionais e estrangeiros, a representação de uma parte da história e o passado de diversas cidades. Nos seus variados temas, os eles se centraram em mostrar, sob um viés ufanista, a representação das maravilhas do país.
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