A professora Maria da
Conceição Fraga explica mais sobre a prática das teorias acadêmicas dentro da
própria universidade
Por Carolina Freitas
Na
universidade, se ouve muito sobre as
oportunidades de extensão, pesquisa e monitoria. Na área de Comunicação Social,
a extensão é importante para nos identificarmos com a realidade da profissão. Entrar num projeto de extensão se inclui no “ritual
acadêmico” pelo qual nós, estudantes, passamos
para entrarmos no mercado.
Afinal, como ter a prática do dia-a-dia
da profissão antes mesmo de estar no mercado de trabalho? Como aprender a
assumir responsabilidades e trabalhar com outras pessoas? E qual o papel do
ensino de teoria nisso tudo? O contraponto prático da sala de aula é o projeto
de extensão. É uma incubadora acadêmica onde se pode aprender a acertar.
Para falar sobre algumas das questões acima e a
importância do projeto de extensão para o aluno, a Professora
Maria da Conceição Fraga, Pró-reitora Adjunta de Extensão e Coordenadora do
projeto de extensão Trilhas Potiguares falou conosco.
MultArt – Como se cria um projeto de extensão? No caso de um aluno ter uma ideia e quiser passar
para frente ele tem que buscar um professor?
PROF.ª – A resolução que normatiza as ações de extensão é
a 053/2008 CONSEPE. Diz que quem pode coordenar um projeto de extensão é
professor ou técnico com nível superior. Então se elabora o projeto e cadastra
no SIGAA. As ideias dos alunos são fantásticas, muito bem–vindas, ideias
inclusive de incorporar aos projetos que eles fazem parte. A instituição é de
pesquisa, ensino e extensão, são três dimensões indissociáveis que fazem parte
da formação do aluno. Talvez por isso o aluno não possa protagonizar um
projeto, porque eles fazem parte da formação. Ainda existe esse debate, há quem
defenda que o aluno poderia protagonizar.
MultArt – Como é que os
projetos influenciam na vida acadêmica do aluno?
PROF.ª – É extremamente importante. A grade curricular
são atividades de ensino, na sua ampla maioria, mas também são amalgamadas com
a pesquisa e com a extensão. Inclusive, tem uma lei federal que exige 10% da
carga horária ser voltada para as ações de extensão. Ela
possibilita ao aluno no momento da sua formação uma experiência, uma vivência
para além da sala de aula, num contato direto com a comunidade, onde ele
provavelmente vai estar inserido na sua vida profissional.
Quando você está pagando uma disciplina, vê uma teoria,
"teoria da comunicação", "a história da comunicação", é
importante conhecer, por quê? Porque elas vão subsidiar. Quando você vai para o
momento profissional, o produto vai ter que ser concebido a partir dessas
teorias. Mas se você ficar só nas teorias você não vai saber nem o que é o
rádio, nem o que é o blog.
A extensão possibilita que você fique imerso na realidade
social Então, este é o grande papel da extensão: é porque você sai da sala de
aula, e você vai realmente vivenciar todas aquelas teorias na prática...
MultArt – Então
como é que você tem visto o projeto de extensão afetando a sociedade?
PROF.ª – Primeiro veja, quando você diz a “sociedade”
isso não quer dizer todos, mas também as carências não são de todos, são
pontuais. Há as carências dos quilombolas, das mulheres, de negros, de
homossexuais... As de determinadas profissões, ou seja, cada grupo social tem
sua demanda. Quando a gente diz que a universidade se relaciona com a sociedade
é porque se relaciona com diversos grupos de várias áreas. Para cada um desses
grupos ou áreas, ela tem uma política específica. Ou seja, os projetos são
voltados para aquilo, não existe nada universal.
MultArt
– Você acha que falta mais visibilidade para
os projetos de extensão daqui interagirem mais com a sociedade?
PROF.ª – Não, eu acho que faltam mais recursos. Se o
governo federal botasse mais, a gente teria mais, porque a demanda é “enorme”.
Temos que cortar um monte de projetos bons. Com mais investimentos, teriam mais
trabalhos, mais professores envolvidos, mais estudantes envolvidos, mais
projetos realizados e melhor atendimento para a sociedade nas suas demandas.
MultArt
– E
podem ter alunos bolsistas também? Inclusive bolsa remunerada?
PROF.ª – É bolsa remunerada, mas quem quiser se envolver
como voluntário é muito bem-vindo. É o que sempre digo para o aluno: vá, porque
o professor trabalha ali, experiência você ganha do mesmo jeito, você não vai
ter é o recurso. E naturalmente, quando vai ter conquistas de bolsas, as
pessoas vão envolvendo aqueles que já tem experiência.
MultArt – Sabe quantos projetos estão ligados a área de
Comunicação Social?
PROF.ª – Esse dado nós temos na pró-reitoria. No ano
passado, a gente realizou mais de 1350 ações,
das quais 900 eram projetos. Mas por área eu não poderia lhe dizer porque são
várias áreas...
MultArt – E, como coordenadora, você vê a diferença naqueles
alunos que participam?
PROF.ª – Enorme. É uma experiência e uma experiência
pessoal. Conviver com grupos, é a comida diferente, vai dormir num lugar e não
é só você, como usar o mesmo banheiro, como respeitar a individualidade dos
outros... Você deixa aquela condição de vida de tudo perfeitinho e começa a
lidar com dificuldades, aí você vai começar a entender o que é a vida real.
MultArt – Você acha que [um projeto de extensão] abre
portas para o mercado?
PROF.ª – Acho, porque o mercado quer o quê? Experiência.
Hoje em dia, todo mundo faz curso, qual o diferencial? Experiências
individuais, de vida, capacidade de tolerância, responsabilidade, assiduidade,
pontualidade. Tudo é atributo que distingue uma pessoa da outra.
Há cinco projetos de extensão em execução
neste semestre, na área de Comunicação. Se além de participar de um projeto de
extensão, você tiver sua própria idéia, vale a pena fazer seu próprio projeto,
a seu gosto (ou do grupo), mesmo que à parte da universidade. Exemplos de idéias assim são: o blog Fala, Foca! e os sites Pra
Nós Rola e Revista Esquina, que
trazem as ideias e trabalho puramente dos alunos. Um projeto próprio também é
uma boa forma de ter liberdade para exercitar suas capacidades comunicativas.