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Caipira? Nem tanto!


Com tantas mudanças e tantas variações no subgênero sertanejo, ele nem mais aparenta o estilo rústico do passado
Por Natália Medeiros

            Quando ouvimos o termo “música sertaneja”, o que logo vem à cabeça é uma dupla com uma viola e um acordeom cantando músicas melancólicas. Esse estilo musical é marcado pela melodia simples e pode até ser um pouco dançante, semelhante à música caipira.
            Em algumas perspectivas do âmbito musical, a música caipira e a música sertaneja, são gêneros diferentes. Isso porque o primeiro seria feito por homens verdadeiros do campo e seria autenticamente a canção rústica, ou “Sertanejo Raiz”. Já o sertanejo de hoje, seria uma “urbanização” do anterior, produto de consumo dos centros comerciais e nem sempre vindo de pessoas do campo.
            Desde 1910, os caipiras (moradores interioranos principalmente de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins) utilizavam instrumentos típicos da roça, como a viola, e formavam duplas para cantar, especialmente em suas festas locais. Após 1929, o estilo começou a tornar-se mais romântico e mais parecido com o que conhecemos hoje. 
(Foto: Portal Armazém do Músico)
            A explosão da Jovem Guarda, na década de 1960, trouxe consigo um dos maiores cantores de música sertaneja do Brasil. Sérgio Reis, com mais de 50 discos gravados, foi um marco na história desse gênero. Com suas canções apegadas ao estilo tradicional, ele revolucionou o sertanejo e o deixou com um repertório mais diversificado.
            No entanto, seu auge foi na década de 1980, com a explosão dos sucessos Chitãozinho & Xororó e Leandro & Leonardo, que as portas da mídia se abriram para a música sertaneja. As músicas, já mais voltadas para os temas amor e traição, ganharam mais espaço nas rádios e destaque no Brasil. E foi em 1991 que Zezé Di Camargo e Luciano, lançaram seu primeiro disco. “É o amor” logo fez sucesso em todo o país, atraindo mais público para esse subgênero musical.
            Contudo, mesmo com a popularização desse estilo, o aparecimento de outros gêneros musicais fez com que ele ficasse um pouco de “escanteio” durante alguns anos. Mas na década de 2000 surgiu o fenômeno do sertanejo universitário, conquistando novamente os palcos e o povo brasileiro (visto que é um ritmo existente apenas aqui). Guilherme & Santiago, Jorge & Mateus, Victor & Leo, Fernando & Sorocaba, Luan Santana, Bruno & Marrone, entre outros, são alguns representantes desse novo estilo musical, que de “caipira” anda um pouquinho longe.
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#Opinião


A LUTA CULTURAL DO SAMBA DE RAIZ VERSUS O MASSACRE CULTURAL DE MASSA
            Embora tenha conteúdo extremamente melhor e mais abrangente, a cultura natural do samba acaba por perder para injusta e ridícula cultura apresentada e divulgada pela mídia
                                                                                                        Por Anderson Maciel

O samba é um ritmo musical genuinamente brasileiro. Nasceu na Bahia, no século 19, enraizada nas culturas africanas provenientes da escravidão, a qual teve seu fim na mesma época histórica, mas se popularizou principalmente no Rio de Janeiro, lugar onde até hoje é unânime entre seu povo. 
No início, praticado pelos negros, preconceitos naturais da época surgiram e pessoas que manifestassem seu carinho pelo samba eram perseguidas e presas. Suas extensões magníficas vão do carnaval, surgido na Europa e trazida pelos portugueses, até rodinhas de samba proporcionadas pelos praticantes dessa arte. Esse estilo de vida possui um público fiel constante com o passar dos tempos. O carnaval, hoje, talvez seja a maior manifestação desse ritmo no Brasil.
(Foto: ARQUIVO/AGÊNCIA ESTADO)
Os principais instrumentos do samba são o tão conhecido pandeiro, o cavaquinho, a flauta e o violão. Dentre os principais nomes do chamado samba de raiz, estão Nelson Cavaquinho, Beth Carvalho, Chico Buarque, Tom Jobim e Adoniran Barbosa. Vale ressaltar que falo do velho e bom samba de raiz, e não da porcaria criada nos dias atuais, onde o samba de raiz se transformou abominavelmente em uma espécie de “samba-pagode”. Para melhor interpretação do primeiro, é necessário escutar o que seria. Vídeos não faltam, e aqui uma das mais famosas dessa história e escutadas até hoje, na voz de Adoniran Barbosa, um dos ícones do samba, a lendária música “Trem das onze”, de 1964.



O samba sempre foi e será diversificado, mas algo preocupa. Segundo o estudante de música da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Emerson de Oliveira, o samba de raiz nunca perderá espaço no Rio Grande do Norte nem muito menos no Brasil em geral, principalmente em seus polos, porque é algo entranhado culturalmente no povo brasileiro. Ele ainda afirma que o ritmo está em completo movimento, isto é, sempre se transformando, com grupos surgindo e crescendo, porém nem sempre para melhor.
O problema está justamente na maldita cultura de massa imposta pela mídia em geral. Nomes bizarros do samba, que, por parte deles, talvez nem merecessem essa designação, são colocados acima de qualquer outro elemento do passado ou até do atual. Por incrível que possa parecer, existem bandas que fazem boa música na extensão sambista na atualidade.
Mas, infelizmente, a mídia não divulga esses bons nomes e apenas aquele cantor bonitão, que talvez faça sucesso com seu público, é mostrado em detrimento de outros melhores. Um bom samba, até divulgado pela mídia, algo raro, é resumido, hoje, na banda “Sambô”, em que os músicos que dela fazem parte buscam canções do passado e as colocam no ritmo do samba. Um exemplo sensacional é a versão de “pais e filhos”, de autoria da banda de rock “Legião Urbana”. Admirável trabalho. Resumindo, bandas boas deveriam ser mostradas e transformadas em cultura de massa finalmente, algo distante, porém jamais impossível.


No que abrange o Rio Grande do Norte, não é novidade que não temos grandes nomes no mundo do samba em geral. Faltam boas estruturas de bom desenvolvimento do músico interessado, e o revés da afirmação anterior: músicos completamente desinteressados em ficar em um estado do país onde grande parte do povo apenas admira profissionais vindos de fora.
De acordo com Emerson, outro fator responsável pela falta de grandes músicos, compositores e lugares para esse estilo, é a perda massacrante para outro ritmo: o forró. Não é de se culpar, é claro, já que o forró é um ritmo culturalmente nordestino, mas seria quase uma obrigação abrir espaço para o estilo do Brasil: o samba, ou samba de raiz, no caso. Aqui, os chamados corajosos têm que se virar para viver dessa profissão de orgulho, ou seja, o cantor ou banda tem que se virar de qualquer jeito, onde um dos únicos lugares é o bairro lendário da Ribeira, uma rota alternativa para pessoas alternativas. Um público bastante limitado, no entanto.
A Ribeira, por mais que tenha seus espaços culturais para os artistas, infelizmente não é suficiente em nível de conhecimento de todo um povo, e acaba perdendo em lucros para a zona sul e suas casas de shows de Natal. Eles saem da cidade e do estado, buscando melhores condições de trabalho e salário, parecendo até um momento de hospital do RN.
Incentivos? Existem, mas são tão poucos por parte do governo que dá até vergonha. De vez em quando e somente isso, o Circuito Cultura da Ribeira é mostrado, porém, mesmo assim, a cultura de massa se impõe para acabar com tudo, quando propagandas são excessivamente mostradas, nos jornais, rádios ou em outro lugar qualquer, e, como vem de fora, enchem os olhos dos natalenses e os fazem pagar caro para ver talvez algo de menor qualidade do que poderiam ver na Ribeira.



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#SugestãoDeCinema

A sétima arte no país de  Ahmadinejad 
O cinema no Irã tem crescido significativamente. Obras do país já foram premiadas em festivais de cinema internacionais, como o Festival de Cannes
Por Alice Andrade

Contar uma história, divertir, emocionar, intrigar, assustar, surpreender e entreter. Esses são, geralmente, os objetivos mais comuns de uma produção cinematográfica. Na nossa terra do futebol inglês, o cinema é inegavelmente americanizado. A maioria dos filmes aos quais temos acesso aqui no Brasil são americanos, o que nos faz ter pouco contato com  produções de outros países. 

Além disso, exceto em cursos especializados ou a partir da curiosidade particular, é raro tomarmos conhecimento sobre a história do cinema de uma forma geral. Isso faz com que, muitas vezes, percamos a oportunidade de apreciar obras excelentes.

Nesse contexto, vale salientar o papel de um país que está em constante crescimento no aspecto cinematográfico: o Irã. Nos últimos tempos, o cinema iraniano está conquistando cada vez mais espaço nas exibições ocidentais. Apesar da censura interna pela qual as produções são submetidas, longas-metragens como O silêncio (Mohsen Makhmalbaf) e A Cor do Paraíso (Majid Majidi) ainda encantam o público.


Mohsen Makhmalbaf, cineasta iraniano (Foto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro)
De acordo com Alessandra Meleiro, em seu livro O Novo Cinema Iraniano - Arte e Intervenção Social, as temáticas mais abordadas nas produções iranianas são  relacionadas à sua realidade social. Os filmes, ainda, demonstram certa pureza e inocência na abordagem de determinadas questões, visto que grande parte deles são voltados para a formação de crianças e jovens.

Capa do livro de Alessandra Meleiro (Foto: germinaliteratura.com.br)
No entanto, algumas das obras que retratam mazelas sociais e fazem denúncia a problemas pertinentes no Irã não recebem autorização do governo para exibição interna. Elas são, porém, levadas a outros países e instigam os apreciadores da cinematografia a conhecer mais sobre a história iraniana. Um exemplo disso é o filme O Círculo, do cineasta Jafar Panahi, que trata-se de uma denúncia contra os preconceitos sofridos pela mulher no Irã e aborda a temática da prostituição.

Dessa forma, o Espaço MultArt sugere alguns títulos de produções desse país que tiveram impacto internacional e também foram exibidas no ocidente.  A sugestão é válida para todos que gostam de cinema, boas histórias e que têm curiosidade a respeito da realidade iraniana. Confira:


O silêncio (Mohsen Makhmalbaf):

 - "A história de um garoto cego que vive em uma vila do Tajiquistão e trabalha como afinador para um velho fabricante de instrumentos. Pressionado por ameaças constantes de despejo, o garoto tenta conseguir dinheiro para salvar a moradia da família, porém, sua audição sensível transcreve o conflito para um universo sonoro-poético que o faz descobrir o mundo e a si mesmo".


O Círculo (Jafar Panahi):
- Fala sobre a realidade das mulheres iranianas e a questão polêmica da prostituição no país.



Kandahar (Mohsen Makhmalbaf):
 - O filme foi o primeiro   a documentar a realidade do Afeganistão durante o regime dos talibãs.




Ten (Abbas Kiarostami): 
 - Conta a história de Mania Akbari, uma mulher divorciada que cria seu filho com dificuldades. Em seu carro, dá carona à pessoas que contam suas histórias.



O Balão Branco (Jafar Panahi):
 - "A pequena Razieh começa a descobrir que o mundo fora de seu quintal não é tão maravilhoso. A menina sai de casa para comprar um peixinho dourado para as comemorações do ano novo iraniano, mas passa apertos para conseguir seu objetivo. Ela ainda encontra adultos mal intencionados. "

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A arte da terra


Tão bonito, mas tão pouco valorizado. Essa é a realidade do nosso artesanato local.
Por Natália Medeiros
            Em nosso cenário nacional e especialmente regional, é comum encontrarmos pessoas que produzem artesanato para venda – seja para o sustento, ou apenas para complementar a renda. Apesar de comum, infelizmente vemos que o artesanato aqui não é muito valorizado pelos próprios moradores.
            Com 74 anos de idade, dona Maria Dorotéia Antunes fabrica variadas peças de artesanato e as vende durante a semana em um quiosque que fica no Centro de Convivência da UFRN. Ela tem ajuda apenas de uma auxiliar para fabricação dos tecidos, porém, ela mesma faz as pinturas em telas, em tecidos, cestos, bandejas, conjuntos de cozinha e também trabalha com pedras dentre outras coisas. Ex-diretora da Feirinha de Artesanato de Ponta Negra, ela já teve várias de suas pinturas expostas no Van Gogh e no Claude Monet. Porém, infelizmente, com a idade avançada e uma alergia que desenvolveu as tintas, já não é mais tão fácil se dedicar muito à arte.
(Foto: Natália Medeiros/ Edição de imagem: Andressa Dantas)

            Essa associação partiu de iniciativa do governo de ceder espaços na Universidade para as pessoas aposentadas poderem trabalhar, ajudando na renda e ainda complementando o espaço cultural com o artesanato. Dona Maria Dorotéia, que é pensionista, procura na atividade uma complementação para o sustento, mas também um exercício para manter-se sempre na ativa: “É mais uma questão de terapia, pois, quando chegamos a uma certa idade, precisamos de uma atividade que nos mantenha ativos. Vende uma coisa numa semana, na outra vende duas, e assim, com paciência, vamos levando o trabalho a diante”.
            Embora a arte local seja bem feita e nos dê motivos para ficar orgulhosos, não vemos muito reconhecimento disso. Na UFRN, já foi solicitado várias vezes um controle maior de seus artesãos e lojas. Também foi solicitado que houvesse mais divulgação, como por exemplo, um comercial ou programa exibido na TV Universitária, no qual essas pessoas pudessem mostrar seu trabalho. No entanto, o pedido foi atendido somente uma vez. Apenas um comercial foi ao ar há muito tempo e depois disso, o assunto foi esquecido pelos gestores.
            Falta então um incentivo maior e mais valorização e divulgação desse trabalho tão bonito e tão importante para nossa cultura. Quando nos atentamos, vemos a triste realidade que é as lojinhas com tão pouco movimento. Como disse a simpática senhora: “Nossa arte, em todo o Rio Grande do Norte, é perfeita! Podemos competir com qualquer outro estado sem sair envergonhados disso”.
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Tradição e inovação: o artesão nos dias de hoje


Como o artesanato vem mudando e se mantém como uma profissão informal

  Por Carolina Freitas
            Artesão é uma profissão tão antiga que remete ao início da humanidade e passa por todos os povos. Seus produtos trazem em si um pouco da cultura de um lugar, misturando técnica, arte e comércio. O artesanato também é associado ao turismo, quando se fala em lembranças de viagem que não representem apenas a globalização, mas a cultura popular folclórica característica do lugar. 
(Fotos: Carolina Freitas/ Edição de imagem: Andressa Dantas)
            No último dia 23/03, encontrei o artesão Geraldo Carlos, 46, na Feirinha de Artesanato de Ponta Negra, um popular ponto turístico, vendendo produtos de seu caminhão.        O caminhão é seu ponto de comércio, onde ele vende mercadorias suas e revende o trabalho de outros artesãos. Além disso, ele vende para lojas e comerciantes em feiras. O veículo é cheio de mercadorias, e dentre elas está o que ele produz, como objetos em madeira (barquinhos e outros brinquedos etc) e bolsas de tecido com estampas de xilogravura.
            Nascido em Recife, ele foi aprendendo o ofício com outros artesãos, inclusive da própria família. Aprendeu na vida, e é assim com a maioria dos artesãos, visto que não se aprende em escolas, mas se vai passando o conhecimento para outras gerações. O próprio senhor Geraldo já ensinou artesanato para muitas outras pessoas.
            Ele disse ter uma carteira profissional que permite dar nota fiscal e receber pagamentos por cartão de crédito, como profissional autônomo, mas que não estava informado sobre outros benefícios, como a aposentadoria. “A maioria dos artesãos exerce a atividade de maneira informal e sem benefício algum, mas eles movimentam uma parcela significativa da nossa economia. Essa medida tem, portanto, o objetivo de ampliar o alcance social e econômico deste setor que é, hoje, gerador de ocupação e renda para milhares de famílias no nosso Estado”, declarou o secretário de Estado, do Trabalho, Habitação e Assistência Social, Luiz Eduardo Carneiro Costa, em notícia  publicada pela Assessoria do SETHAS.
Ainda hoje, a maioria dos artesãos são informais, talvez pela tradição da profissão, ou também pela falta de informação em relação a burocracia da profissionalização e dos benefícios. Para se cadastrar, se pode ir ao Centro Administrativo, na sede do SETHAS. No interior é necessário aguardar a vinda de uma equipe técnica do PROART (Programa Estadual de Artesanato, vinculado ao programa nacional - PAB). Um artesão pode se formalizar como profissional autônomo, fazer uma carteira nacional do artesão, ter direito a aposentadoria e ainda não pagar o Imposto de Circulação de Mercadorias.
            É um trabalho tradicional, porém influenciado pelas novidades de informações, materiais e ferramentas que vão surgindo. Na Internet, se encontra uma grande diversidade de material sobre o assunto e novas formas de aprender e vender artesanato. Há sites específicos para venda de artesanato, como o elo7 e até mesmo o facebook serve para vender, criando-se uma página da loja.
            O trabalho do artesão foi sendo desvalorizado com a popularização da produção em série da indústria. Imagine, por exemplo, o impacto da criação das máquinas de costura, que possibilitaram a costura em escala industrial, de roupas a bancos de automóveis, e hoje são utilizadas por qualquer costureira ou artesão que trabalhe em couro ou tecidos. 
(Foto: Carolina Freitas)
            Contudo, o artesanato tem características próprias, é feito numa escala diferente e cada peça é única, com os traços de um artesão que conhece todo o processo, mesmo que trabalhe com a sua família ou numa cooperativa. Há uma carga cultural da produção artesã. Sua importância cultural e socioeconômica, se vem buscando reconhecer e valorizar o trabalho do artesão, através de algumas ações estaduais e nacionais (como o Programa de Artesanato Brasileiro).
            Arte já foi um conceito de se ter um saber completo e habilidade em fazer alguma coisa, seja em relação ao trabalho manual ou em fazer guerra, por exemplo. Arte se desprendeu da ideia de utilidade e ganhou mais aspectos comunicativos e reflexivos, porém o artesanato também é expressão e resultado do esmero de alguém. Artista e artesão vêm da mesma palavra e eram sinônimos até a Renascença. Os conceitos de arte mudaram, e hoje muita gente os dissocia completamente, ainda que arte e artesanato se misturem e não sejam incompatíveis.
(Foto: Carolina Freitas)

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O artesanato formal


Cadastro de artesãos pode ser realizado em todo estado do RN
Por Vitória de Santi

            O artesanato é uma das mais importantes e tradicionais atividades econômicas do Rio Grande do Norte e a principal fonte de renda para muitas famílias. Ultimamente, é um setor que anda crescendo, principalmente, por causa de medidas que o Governo do Estado está tomando para garantir o desenvolvimento desse ramo e de quem trabalha com ele.
            A principal medida foi aprimorar o Programa Estadual de Artesanato do Rio Grande do Norte (PROART). Executado pela Secretaria de Estado de Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (SETHAS), o PROART tem como objetivo a valorização do artesão e do artesanato potiguar, intermediando a divulgação e a comercialização de seus produtos.
            É através do PROART que os artesãos têm acesso à Carteira do Artesão, um documento que traz diversos benefícios. Entre eles estão a participação em diversas feiras de artesanato, locais, nacionais ou internacionais; previdência social, garantindo assim a aposentadoria, como trabalhador autônomo; produtos produzidos pelos artesãos isentos de ICMS; empréstimo subsidiado nos Bancos do Brasil e do Nordeste; e menor preço na compra de matéria-prima para a produção dos produtos.
E é essa carteira que faz com que o que é feito por esse artesão seja classificado como artesanato formal, pois em posse dela o artesão passa a ser considerado um trabalhador autônomo e tem a possibilidade de vender seus produtos para a revenda em diversos lugares ou abrir sua própria loja.
(Fotos: Carolina Freitas/Edição de imagens: Andressa Dantas)

Para o cadastramento, o artesão deve se dirigir a sede da Secretaria de Estado de Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (SETHAS) ou do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE – RN), portando documento de identificação e algum produto produzido por ele mesmo, que irá passar pela avaliação de uma comissão no local. É comum também esse cadastramento ser feito durante feiras de artesanato, facilitando assim o acesso dos artesãos a esse procedimento. Foi assim durante a Feira Internacional de Artesanato (FIART) – ocorrida no mês de janeiro desse ano – e na feira de artesanato montada em Mirassol. Atualmente, já são quase 10 mil o número de artesãos cadastrados. O governo estadual espera que esse número aumente nos próximos meses e que todos os artesãos do estado possuam essa carteira.
Outra medida recente adotada pelo Governo do Estado foi o lançamento do site www.artesanatopotiguar.com.br no último dia 19, coincidentemente no dia do artesão. O site é destinado a funcionar como uma espécie de vitrine do artesanato do estado, com fotos e informações dos produtos confeccionados por artesãos de todo o território potiguar, possibilitando assim a exposição e venda desses produtos tanto dentro como fora do Rio Grande do Norte.
Com essas medidas e a legalização do artesão como trabalhador formal, o artesanato tem tudo para ser uma atividade econômica mais desenvolvida. É esperado que os artesãos sejam realmente beneficiados e possam usufruir de todos esses benefícios, podendo assim melhorar suas condições de vida.
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Visitas, modelos e exportações artesanais


A exploração turística serve como base para uma produção artesanal de bom nível e a circulação dela para o resto do país
Por Anderson Maciel

Natal é um polo turístico frequentemente visitado – embora essa afirmação esteja se encaminhando à contramão nos últimos anos. Os turistas, encantados com nossas belezas naturais e com o bom atendimento que geralmente recebem, têm a reação natural de procurar uma lojinha ou quiosque especializado no artesanato, onde podem comprar objetos, roupas ou outro acessório que marque sua visita e os faça lembrar-se dela em momentos futuros. Em meio ao contingente de opções e variedades, destacam-se caixinhas decoradas e porta-chaves.
De acordo com as simpáticas artesãs Madalena e Marluce, as quais possuem um quiosque na UFRN, as caixinhas decoradas são criadas a partir de madeira, tinta e, para propriamente justificar o nome que é dado, usa-se a técnica da decoupagem – modelo decorativo das caixas, usando figuras recortadas em guardanapo, fazendo-as com a criatividade que Marluce possui.
(Fotos: Anderson Maciel/Edição de imagens: Andressa Dantas)

Os porta-chaves também são feitos com madeira e decorados de maneira criativa pelas artesãs. A produção é lenta ou acelerada. Caso o número de envolvidos na confecção das peças seja pequeno, o tempo de produção é maior. No caso de Madalena e Marluce, apenas as duas realizam o trabalho.
No entanto, mesmo que a tendência seja de grandes vendas no setor artesanal do Rio Grande do Norte - devido às boas estatísticas turísticas e com todas as peças e objetos já citados - elas afirmam que não dá para viver apenas com a renda proveniente dos lucros vindos do turismo, pois existem épocas específicas onde o número de turistas aumenta ou diminui. Dessa forma, seria inviável se sustentar com apenas isso. Madalena é clara nesse aspecto: “Aqui não dá para viver com artesanato, mesmo o Rio Grande do Norte sendo esse grande polo turístico”.
Ainda nesse pensamento, enquanto houver turistas, haverá peças de artesanato para se exportar e fazer com que a cidade de Natal seja vista por pessoas de outras cidades e estados. Seja por meio de camisas, as quais podem vir com um símbolo do sol (como as do quiosque da UFRN, por exemplo), ou por caixinhas decorados e porta-chaves, o artesanato existe e cada vez mais ratifica a importância do seu papel.
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O artesanato da Rosa

Garra, determinação, um dom natural e mais de 35 anos de artesanato.
Por Brena Queiroz

(Fotos: Brena Queiroz/ Edição de imagens: Andressa Dantas)

            Nascida em Quixadá,onde a maioria é artesão, Rosymeiry Bezerra da Silva (54) trouxe para o povo potiguar seu dom natural com a arte. No Ceará, onde as raízes do artesanato são mais fortes, ela construiu sua história no ramo que lhe rendeu bons frutos.
            Como a maioria dos cearenses, dona Rosa, como é conhecida, mudou-se para Fortaleza a estudo e, com a mãe doente, precisou trabalhar aos 13 anos. Nessa época, ela afirma que o lado artístico já havia despertado e, por brincadeira – mas com uma habilidade incrível – já fazia pinturas em casa e era até mesmo paga pelos colegas de colégio para fazer seus trabalhos. A oportunidade de emprego surgiu em uma própria empresa de artesanato. Na seleção de quem iria ficar com a vaga, a orientadora desconfiou da menininha, mas quando viu seu trabalho não pensou duas vezes. Ela agora tinha como ajudar em casa. Como era muito nova, a carteira não foi assinada e foi estabelecido um tempo próprio para o estudo, afinal, a escola não poderia ficar em segundo plano.
            Trabalhou nessa empresa até os 16 anos e, dentro desses três anos de trabalho, sua carteira foi assinada. Na mesma época sua mãe faleceu e o pai recebeu uma proposta em Natal, para onde foi transferido.
            Chegando aqui, trabalhou longe do artesanato, mas sempre continuou com a vontade de criar suas próprias peças. Casou aos 18 anos e concebeu três filhos. O primeiro, Márcio Bezerra (34), nasceu com necessidades especiais e dona Rosa precisou assumir sua postura de mãe e dona de casa. Nesse tempo de cuidados, retomou a pintura – sua principal habilidade – e alimentou maissua vontade de crescer no ramo. Em dois anos Hueids Bezerra (32) nasceu e, em cinco, Raquel Bezerra (29) veio ao mundo.
                Com os filhos nascidos, Rosy se dividia em ajudar o marido no comércio, auxiliar no crescimento dos filhos e em criar suas peças. Começou a expor e vender seu trabalho na lojinha do Programa de Apoio ao Estudante (PAE), onde Márcio era assistido. Enquanto acompanhava seu filho, ela pintava com as outras mães que, admiradas com o trabalho da amiga, deram a sugestão da venda. A partir daí suas peças começaram a ser conhecidas.
            Em casa,preparando encomendas para amigos e até mesmo fazendo da arte um hobby, ela influenciou seu filho Hueids – e afirma isso com orgulho. Ele, formado em turismo, nunca deixou o artesanato de lado e hoje cria suas peças em madeira, conchas e búzios, sua especialidade.
            Dona Rosa sempre teve vontade de abrir sua própria loja, mas para crescer e alcançar esse objetivo, precisou vender a arte corpo a corpo. Sem vergonha de nada e com muita determinação – o que ela afirma ser marca registrada de todo cearense, foi ao calçadão da praia de Ponta Negra e trabalhou diretamente com turistas. Para ela, foi uma ótima experiência. A praia servia de inspiração e fez com que ela percebesse que não trocaria sua profissão por nada.
            Em mais ou menos cinco anos concretizou seu sonho e fundou, com ajuda de seus filhos, (principalmente da Raquel, que entende do ramo) sua própria loja, a Brasilidades – no shopping do Artesanato Potiguar. No início, Rosymeiry conta que a loja possuía pouco material e que um dos fatores importantíssimos para o crescimento foi a exposição em feiras de artesanato, as quais possibilitou muitas parcerias.
            Hoje, com seu próprio ateliê eprestes a tomar posse do cargo de presidente do Sindarte - Sindicato dos Artesãos, dona Rosa tem planos. Fala que o estado precisa de ações que incentivem o artesanato e lembra, com tristeza, que muitos conterrâneos não conhecem o trabalho de seus próprios artesãos. Diz que, na sua nova condição, vai buscar e impulsionar no estado as pessoas que querem mostrar seu trabalho e nota que o Rio Grande do Norte é um estado rico para a área. “Temos palha de carnaúba, temos as praias (...) o que acontece é que muitos artistas não tem condições de fazer e expor seu trabalho”.
            Guerreira, o que se espera é a realização desse objetivo. Ser artesã, de fato, já estava em seu sangue. Cearense, mas potiguar de coração, dona Rosa, de fato, é um orgulho para todos aqueles que conhecem seu trabalho. E principalmente influência para todos os outros que também desejam transformar seus sonhos em arte. 
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Mamulengo: arte da mão viva


Os fantoches criam vida através dos movimentos das mãos dos artistas

"Fala, fala mamulengo

Vai gracejando prá nos divertir
Fala, fala mamulengo

O mundo inteiro necessita sorrir"

Mamulengo, Luiz Gonzaga.


                                                                                                                                Por Yasmin Farias
  O mamulengo, conta-se, é de origem européia. Logo na Idade Média, quando a Igreja Católica usava marionetes para expandir seus preceitos. Nessa época, as apresentações com fantoches foram chamadas de Presépio. No Brasil, foi introduzido em Pernambuco, ainda no século XVI, chamados de mamulengo. Como surgiu de inspiração católica, as principais alegorias eram figuras que representavam, além dos santos e dos reis magos, animais de estabulo, comuns aos presépios armados durante o Natal.
(Foto: http://4.bp.blogspot.com/ Edição de imagem: Andressa Dantas)
  O teatro do bonecos possui vários nomes pelo Brasil: mamulengo em Pernambuco, babau na Paraíba, Casimiro coco no Ceará, Briguela na Bahia, João minhoca em São Paulo e Minas Gerais e João redondo no Rio Grande do Norte. Na representação teatral, em todos os fantoches há uns panos à frente, atrás dos quais se escondem um ou mais manipuladores que dão voz e movimento aos bonecos. Suas representações geralmente eram em praça pública que em geral, durante os festejos religiosos, apresentando a tamática bílica ou sobre atualidades.
  Na cultura popular nordestina, o mamulengo é práticado desde a época colonial e retrata o cotidiano do povo que a prática, geralmente situações cômicas e sátiras.
  A origem da expressão mamulengo não é definida, mas algumas teorias dizem que a palavra deriva de mão molenga, mão mole pela facilidade que o bonequeiro tem de manipular um ou mais bonecos ao mesmo tempo. Outra versão é que a palavra venha de Mulungu, madeira da qual são feitos os bonecos.  
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Artesanato como fonte de cultura e economia


Por Andrei Christian Torres

O artesanato baseia-se na transformação da matéria-prima em objetos úteis e quem realiza essa atividade denomina-se artesão. Fonte de renda e de cultura, o artesanato tem uma grande participação e importância na economia natalense. Através da arte, famílias ganham a vida e enriquecem o turismo na capital potiguar.
Os vários Centros de Artesanato espalhados pela cidade proporcionam conforto e comodidade para turistas, além do fato que os artesãos têm o espaço para mostrar o seu trabalho, garantindo seu sustento e expandindo a cultura da cidade.
(Fotos: psbceara.org.br e static.wix.com/ Edição de imagem: Andressa Dantas)
Em janeiro deste ano, Natal foi sede da 18ª FIART (Feira Internacional de Artesanato). A feira ocorre anualmente e se tornou uma alternativa a mais para os turistas. O evento contou com o apoio da governadora Rosalba Ciarlini e dos secretários de Estado Luiz Eduardo Carneiro (Trabalho e Assistência Social), Renato Fernandes (Turismo), Rogério Marinho (Desenvolvimento Econômico) e Isaura Rosado (Cultura). A feira reuniu expositores de 13 países e, só de Natal, foram mais de 2.000 artesãos que divulgaram o seu trabalho e obtiveram lucro.

Em Natal, o artesanato tem força em todas as épocas do ano, possibilitando ao artesão melhores condições de vida e atuando contra o desemprego. Essa arte pode ser considerada elemento de equilíbrio na capital potiguar, no nordeste e no Brasil. O apoio do governo tem grande importância para a sua valorização na região, e é através desse suporte que se pode garantir o movimento do capital e a preservação da cultura em Natal.

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Todo cordel é encantado


A poética simplicidade de relatar as dores e prazeres do cotidiano com a graça nordestina, feita do povo para o povo.
Por Natália Noro

(Fotos: Natália Noro/ Edição de Imagem: Andressa Dantas)
            Quando na época do Renascimento se populariza a impressão do que antes era relatado oralmente, os portugueses decidem transformar suas rimas em folhetos e pendurá-los em barbantes para exposição. Assim surge o cordel, gênero literário que atravessou o Atlântico e desembocou no Nordeste.
            A tradição do barbante não se manteve no Brasil, mas também não impediu que o povo desse seu jeito próprio de perpetuar a cultura de forma única. Aqui, os cordéis são vendidos em mercados e feiras abordando temas do cotidiano e fatos históricos de forma engraçada com estrofes comumente com seis, oito ou dez versos. Simplificando, para o cordelista e poeta Abaeté, idealizador e organizador da Casa do Cordel, "o cordel é uma poesia rimada e metrificada, como uma música; você pega uma sanfona, um pandeiro e começa a cantar. É um gênero popular, você pode ter dez mestrados, mas você fala a linguagem do povo."


            Outra característica predominante do cordel publicado em forma de folheto é a xilogravura. Foi inventada na China e significa gravura em madeira. O artesão entalha o desenho na madeira e utiliza tinta para pintar a parte em relevo e prensa, como se fosse um carimbo, na superfície que deseja ilustrar.
            Com um menor refreio da mídia, as pessoas começaram a perder a vergonha da sua própria cultura. O que antes estava fincado apenas nas raízes nordestinas, hoje ganha todo o país, estando presente em estados do sul e sudeste. Foi criada, inclusive, no Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel em 1988 com o intuito de reunir todos os expoentes desse gênero tipicamente nacional.
            Hoje, o Rio Grande do Norte é o estado que mais se produz cordéis. A Casa do Cordel, localizada na Cidade Alta, foi criada devido a percepção da carência de um espaço voltado totalmente para essa cultura. O objetivo, diz Abaeté, é colocar o cordel no lugar que ele merece, que é a educação, sendo uma forma de ensinar as pessoas brincando. Ele também conta que "as professoras nos diziam que os alunos tinham muita dificuldade com a redação, até que ela começou a pedir que fizessem-a em cordel e eles foram desenvolvendo e hoje são nota dez em redação. Principalmente as crianças entre dez a doze anos, elas adoram."

            Patativa do Assaré não era dez em redação, porém sua alfabetização iniciática não o impediu de cumprir sua missão como poeta da justiça social. Suas poesias, além de repentes, viraram folhetos nos quais ele sempre abordou de forma simples a aridez do universo da caatinga. Seus poemas mais famosos são "Triste Partida", que virou música na voz de Luiz Gonzaga, "Inspiração Nordestina" e "Cantos de Patativa".
            Por fim, o cordelista Abaeté conclui dizendo que "uma vez eu tava no interior e um cara me perguntou o que devia fazer para ser um bom poeta, aí eu disse 'um bom poeta não precisa ser rico ou pobre ou escravo do dicionário, catando palavras bonitas. Um bom poeta acredita na sua intuição, popular ou erudita, tudo o que faz é bonito quando vem do coração.'" E é exatamente aí que se encontra a magia do povo e do cordel que se enlaçam na poesia de serem uma coisa só.
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