Tradição e inovação: o artesão nos dias de hoje


Como o artesanato vem mudando e se mantém como uma profissão informal

  Por Carolina Freitas
            Artesão é uma profissão tão antiga que remete ao início da humanidade e passa por todos os povos. Seus produtos trazem em si um pouco da cultura de um lugar, misturando técnica, arte e comércio. O artesanato também é associado ao turismo, quando se fala em lembranças de viagem que não representem apenas a globalização, mas a cultura popular folclórica característica do lugar. 
(Fotos: Carolina Freitas/ Edição de imagem: Andressa Dantas)
            No último dia 23/03, encontrei o artesão Geraldo Carlos, 46, na Feirinha de Artesanato de Ponta Negra, um popular ponto turístico, vendendo produtos de seu caminhão.        O caminhão é seu ponto de comércio, onde ele vende mercadorias suas e revende o trabalho de outros artesãos. Além disso, ele vende para lojas e comerciantes em feiras. O veículo é cheio de mercadorias, e dentre elas está o que ele produz, como objetos em madeira (barquinhos e outros brinquedos etc) e bolsas de tecido com estampas de xilogravura.
            Nascido em Recife, ele foi aprendendo o ofício com outros artesãos, inclusive da própria família. Aprendeu na vida, e é assim com a maioria dos artesãos, visto que não se aprende em escolas, mas se vai passando o conhecimento para outras gerações. O próprio senhor Geraldo já ensinou artesanato para muitas outras pessoas.
            Ele disse ter uma carteira profissional que permite dar nota fiscal e receber pagamentos por cartão de crédito, como profissional autônomo, mas que não estava informado sobre outros benefícios, como a aposentadoria. “A maioria dos artesãos exerce a atividade de maneira informal e sem benefício algum, mas eles movimentam uma parcela significativa da nossa economia. Essa medida tem, portanto, o objetivo de ampliar o alcance social e econômico deste setor que é, hoje, gerador de ocupação e renda para milhares de famílias no nosso Estado”, declarou o secretário de Estado, do Trabalho, Habitação e Assistência Social, Luiz Eduardo Carneiro Costa, em notícia  publicada pela Assessoria do SETHAS.
Ainda hoje, a maioria dos artesãos são informais, talvez pela tradição da profissão, ou também pela falta de informação em relação a burocracia da profissionalização e dos benefícios. Para se cadastrar, se pode ir ao Centro Administrativo, na sede do SETHAS. No interior é necessário aguardar a vinda de uma equipe técnica do PROART (Programa Estadual de Artesanato, vinculado ao programa nacional - PAB). Um artesão pode se formalizar como profissional autônomo, fazer uma carteira nacional do artesão, ter direito a aposentadoria e ainda não pagar o Imposto de Circulação de Mercadorias.
            É um trabalho tradicional, porém influenciado pelas novidades de informações, materiais e ferramentas que vão surgindo. Na Internet, se encontra uma grande diversidade de material sobre o assunto e novas formas de aprender e vender artesanato. Há sites específicos para venda de artesanato, como o elo7 e até mesmo o facebook serve para vender, criando-se uma página da loja.
            O trabalho do artesão foi sendo desvalorizado com a popularização da produção em série da indústria. Imagine, por exemplo, o impacto da criação das máquinas de costura, que possibilitaram a costura em escala industrial, de roupas a bancos de automóveis, e hoje são utilizadas por qualquer costureira ou artesão que trabalhe em couro ou tecidos. 
(Foto: Carolina Freitas)
            Contudo, o artesanato tem características próprias, é feito numa escala diferente e cada peça é única, com os traços de um artesão que conhece todo o processo, mesmo que trabalhe com a sua família ou numa cooperativa. Há uma carga cultural da produção artesã. Sua importância cultural e socioeconômica, se vem buscando reconhecer e valorizar o trabalho do artesão, através de algumas ações estaduais e nacionais (como o Programa de Artesanato Brasileiro).
            Arte já foi um conceito de se ter um saber completo e habilidade em fazer alguma coisa, seja em relação ao trabalho manual ou em fazer guerra, por exemplo. Arte se desprendeu da ideia de utilidade e ganhou mais aspectos comunicativos e reflexivos, porém o artesanato também é expressão e resultado do esmero de alguém. Artista e artesão vêm da mesma palavra e eram sinônimos até a Renascença. Os conceitos de arte mudaram, e hoje muita gente os dissocia completamente, ainda que arte e artesanato se misturem e não sejam incompatíveis.
(Foto: Carolina Freitas)

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