#Opinião


A LUTA CULTURAL DO SAMBA DE RAIZ VERSUS O MASSACRE CULTURAL DE MASSA
            Embora tenha conteúdo extremamente melhor e mais abrangente, a cultura natural do samba acaba por perder para injusta e ridícula cultura apresentada e divulgada pela mídia
                                                                                                        Por Anderson Maciel

O samba é um ritmo musical genuinamente brasileiro. Nasceu na Bahia, no século 19, enraizada nas culturas africanas provenientes da escravidão, a qual teve seu fim na mesma época histórica, mas se popularizou principalmente no Rio de Janeiro, lugar onde até hoje é unânime entre seu povo. 
No início, praticado pelos negros, preconceitos naturais da época surgiram e pessoas que manifestassem seu carinho pelo samba eram perseguidas e presas. Suas extensões magníficas vão do carnaval, surgido na Europa e trazida pelos portugueses, até rodinhas de samba proporcionadas pelos praticantes dessa arte. Esse estilo de vida possui um público fiel constante com o passar dos tempos. O carnaval, hoje, talvez seja a maior manifestação desse ritmo no Brasil.
(Foto: ARQUIVO/AGÊNCIA ESTADO)
Os principais instrumentos do samba são o tão conhecido pandeiro, o cavaquinho, a flauta e o violão. Dentre os principais nomes do chamado samba de raiz, estão Nelson Cavaquinho, Beth Carvalho, Chico Buarque, Tom Jobim e Adoniran Barbosa. Vale ressaltar que falo do velho e bom samba de raiz, e não da porcaria criada nos dias atuais, onde o samba de raiz se transformou abominavelmente em uma espécie de “samba-pagode”. Para melhor interpretação do primeiro, é necessário escutar o que seria. Vídeos não faltam, e aqui uma das mais famosas dessa história e escutadas até hoje, na voz de Adoniran Barbosa, um dos ícones do samba, a lendária música “Trem das onze”, de 1964.



O samba sempre foi e será diversificado, mas algo preocupa. Segundo o estudante de música da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Emerson de Oliveira, o samba de raiz nunca perderá espaço no Rio Grande do Norte nem muito menos no Brasil em geral, principalmente em seus polos, porque é algo entranhado culturalmente no povo brasileiro. Ele ainda afirma que o ritmo está em completo movimento, isto é, sempre se transformando, com grupos surgindo e crescendo, porém nem sempre para melhor.
O problema está justamente na maldita cultura de massa imposta pela mídia em geral. Nomes bizarros do samba, que, por parte deles, talvez nem merecessem essa designação, são colocados acima de qualquer outro elemento do passado ou até do atual. Por incrível que possa parecer, existem bandas que fazem boa música na extensão sambista na atualidade.
Mas, infelizmente, a mídia não divulga esses bons nomes e apenas aquele cantor bonitão, que talvez faça sucesso com seu público, é mostrado em detrimento de outros melhores. Um bom samba, até divulgado pela mídia, algo raro, é resumido, hoje, na banda “Sambô”, em que os músicos que dela fazem parte buscam canções do passado e as colocam no ritmo do samba. Um exemplo sensacional é a versão de “pais e filhos”, de autoria da banda de rock “Legião Urbana”. Admirável trabalho. Resumindo, bandas boas deveriam ser mostradas e transformadas em cultura de massa finalmente, algo distante, porém jamais impossível.


No que abrange o Rio Grande do Norte, não é novidade que não temos grandes nomes no mundo do samba em geral. Faltam boas estruturas de bom desenvolvimento do músico interessado, e o revés da afirmação anterior: músicos completamente desinteressados em ficar em um estado do país onde grande parte do povo apenas admira profissionais vindos de fora.
De acordo com Emerson, outro fator responsável pela falta de grandes músicos, compositores e lugares para esse estilo, é a perda massacrante para outro ritmo: o forró. Não é de se culpar, é claro, já que o forró é um ritmo culturalmente nordestino, mas seria quase uma obrigação abrir espaço para o estilo do Brasil: o samba, ou samba de raiz, no caso. Aqui, os chamados corajosos têm que se virar para viver dessa profissão de orgulho, ou seja, o cantor ou banda tem que se virar de qualquer jeito, onde um dos únicos lugares é o bairro lendário da Ribeira, uma rota alternativa para pessoas alternativas. Um público bastante limitado, no entanto.
A Ribeira, por mais que tenha seus espaços culturais para os artistas, infelizmente não é suficiente em nível de conhecimento de todo um povo, e acaba perdendo em lucros para a zona sul e suas casas de shows de Natal. Eles saem da cidade e do estado, buscando melhores condições de trabalho e salário, parecendo até um momento de hospital do RN.
Incentivos? Existem, mas são tão poucos por parte do governo que dá até vergonha. De vez em quando e somente isso, o Circuito Cultura da Ribeira é mostrado, porém, mesmo assim, a cultura de massa se impõe para acabar com tudo, quando propagandas são excessivamente mostradas, nos jornais, rádios ou em outro lugar qualquer, e, como vem de fora, enchem os olhos dos natalenses e os fazem pagar caro para ver talvez algo de menor qualidade do que poderiam ver na Ribeira.



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